O Premier, que afirmara dias antes que "a cultura do medo não iria tomar conta das ruas" como tomou, assumiu um tom mais realista ao conclamar a sociedade organizada a buscar respostas para a recente onda de violência urbana que tem varrido as principais cidades do Reino Unido. O próprio Primeiro Ministro se antecipou em apontar o que para ele seriam as principais causas da violência perpetrada na maioria dos casos por jovens das classes socialmente menos favorecidas. Mas, longe de assumir o mea culpa pela política econômica que tem promovido repetidos cortes nos gastos sociais de seu governo, Cameron optou por buscar os motivos em condições que, a primeira vista, estariam fora do âmbito estrito das políticas públicas adotadas, citando "a falta de disciplina nas escolas, crianças com pais ausentes e a cultura das "gangs" na Grã Bretanha" como causas prováveis.
As manifestações violentas devem ser rejeitadas em todas as instâncias em que se apresentem e em hipótese alguma podem ser justificadas seja por quais circunstâncias venham a se manifestar. Após o conclame da sociedade pela busca de soluções, o Ministro, pretendendo dar uma satisfação a seus cidadãos, anunciou que reunirá os Ministros de Estado para delinear os termos da "guerra" que pretende travar "contra os jovens que promoveram o caos no país".
Este talvez tenha sido apenas mais um equívoco a se somar a sucessão que tem se perpetrado desde o início das manifestações. Quem tem muito a perder não declara guerra contra quem já perdeu até a esperança. A história nos ensina que grandes potências bélicas já perderam guerras por conta do pedante desprezo da força encontrada no desespero de causa e na obstinação do oponente. As massas querem ser ouvidas e, embora tenham escolhido a maneira mais vil para se fazer notar, ainda não atingiram o objetivo a que se propuseram quando iniciaram sua caminhada destrutiva. A recusa em admitir as verdadeiras motivações dos motins na Grã Bretanha podem custar mais caro a já "despedaçada" sociedade britânica.
Curiosamente, há seis anos, quando rebeliões com as mesmas características explodiram em França, o renomado periódico The Times de Londres, comprovando o dito popular de que "pimenta nos olhos dos outros é refresco", apontava os erros o governo francês vaticinando que "a pressão [sobre as minorias] veio crescendo por trinta anos e teria que fatalmente explodir em algum momento". Poderiam ter usado as mesmas lições em casa.
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